Não sei como dizer, e todavia

Ana Luísa Amaral

Não sei como dizer, e todavia

é quando de repente
o reclinar pacífico dos montes
e o sol de frente, apontanzo ao azul, en nuclear inofensiva
e bela

ou quando de repente
(vogais para dizê-lo são sem ser):
esse rio tão rasgado de estuário
e o rasto que o navio sobre ele foi:
iluminado à luz mais luz,
em explosão de memória.

aquelas mãos,
segurando uma tarde

é quando de repente,
tudo invade: o horizonte
de recorte fundo,
que nem tesoura a céu
recortaria,

e de dentro ressalta,
perto e longe

e é como uma cratera
onde se alargam nuvens e gigantes
e súbitos castelos

e tudo faz sentido,
mesmo seu eu saber
como falar

E Todavía.
Assírio & Alvim, 2015, pág. 23.

Desprazamento
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GL