Samuel F. Pimenta
Foz
Falo-te da condição dos rios
do gelo das montanhas
e dos peixes
dos seixos e escarpas
que ainda dobram as minhas águas.
Falo-te das florestas
dos percursos ocultos
[câmaras subterrâneas que esculpi]
e das vidas a quem dei de beber.
Falo-te do tempo que demora um grão de areia a nascer.
E tu revelas-me o encontro azul das águas
o movimento das vagas
o sopro do sal.
Falas-me do mundo submerso
dos segredos que escutaste nos búzios
e das velas brancas
dos barcos ao partir.
Já não sou rio nem margem.
Sou líquido com asas a crescer no horizonte.
Ascensão da água,
Labirinto, 2020, p. 5.