Ana Luísa Amaral
Aprendizagens
Era cromada e preta a bicicleta,
trazia um laço largo no volante circulando
o Natal e rodas generosas
como parecia o mundo
Eu, na manhã seguinte,
sem saber sustentar a rota nivelada,
o meu pai a meu lado, segurando o assento,
a sua mão: aceso fio de prumo,
em acesa confiança.
Depois, era-lhe a voz entrecortada
pelo puro cansaço de correr,
tentando harmonizar a bicicleta.
Hoje, muitos anos depois de gestos paralelos,
a minha filha sobre outras estradas,
a minha mão corrigindo o desvio de mais modernas rodas,
entendo finalmente que era emoção o que se ouvia
na voz interrompida do meu pai:
o medo que eu caísse,
mesmo sabendo que eram curtas as quedas, mas sobretudo a ternura de me ver ali,
a entrar no mundo dos crescidos,
em equilíbrio débil,
rente à saída circular da infância.
What’s in a name?.
Assírio & Alvim, 2017